A Missão dO Báb

Retrospectiva 1844-1994

Por Douglas Martin

Neste artigo, publicado pela primeira vez na edição de 1994-5 do The Bahá’í World, Douglas Martin trata da Revelação dO Báb no contexto do seu impacto nos escritores ocidentais da época e da sua influência subsequente.

O ano de 1994 marcou o 150º aniversário da declaração da Missão dO Báb (Siyyid ‘Alí-Muhammad, 1819-1850), um dos dois Fundadores da Fé Bahá’í. A ocasião enseja que se busque uma perspectiva das extraordinárias consequências históricas que emanaram de um evento, na época, pouco percebido fora dos confins da sociedade remota e decadente na qual ocorreu.

A primeira metade do século XIX foi um período de expectativa messiânica no mundo islâmico, assim como em várias partes do mundo cristão. Na Pérsia, uma onda de entusiasmo milenarista abarcou muitos dentre a classe de religiosos eruditos da sociedade muçulmana xiita, focados na crença de que o cumprimento das profecias do Alcorão estava prestes a acontecer. Foi para um desses ardorosos buscadores que, na noite de 22-23 de maio de 1844, O Báb (título que significa A Porta) anunciou ser o Portador de uma Revelação Divina destinada não somente a transformar o Islã, mas a traçar uma nova direção para a vida espiritual da humanidade.

A sala em que o Báb declarou Sua Missão

No decorrer da década seguinte, uma crescente oposição tanto do clero quanto do Estado resultou no martírio dO Báb, no massacre de Seus discípulos proeminentes e de outros milhares de seguidores, e na virtual extinção do sistema religioso que Ele fundara. Desses anos angustiantes, contudo, emergiu um movimento sucessor, a Fé Bahá’í, que desde então se espalhou por todo o planeta e estabeleceu sua reivindicação de representar uma nova e independente religião mundial.

É para Bahá’u’lláh (Mirzá Husayn-‘Alí, 1817-1892) que a comunidade bahá’í mundial se volta como a fonte de seus ensinamentos espirituais e sociais, de autoridade para as leis e instituições que moldam sua vida, e de visão de unidade que a tornaram atualmente o corpo organizado mais geograficamente disperso e mais etnicamente diverso do mundo. É de Bahá’u’lláh que a Fé deriva seu nome, e para cujo sepulcro, na Terra Santa, milhões de bahá’ís em todo o mundo direcionam diariamente seus pensamentos quando se voltam a Deus em oração.

Essas circunstâncias, contudo, de maneira nenhuma diminuem o fato de que a nova Fé surgiu em meio à magnificência sangrenta e terrível que permeou a breve missão dO Báb ou de que a inspiração para a difusão dessa Fé por todo o mundo tem sido o espírito de sacrifício que os bahá’ís encontram na vida dO Báb e nas vidas do heroico grupo que O seguiu. Orações reveladas pelo Báb e passagens de Seus volumosos escritos são parte da vida devocional de bahá’ís em todo o mundo. Os eventos de Sua missão são comemorados anualmente como dias sagrados em dezenas de milhares de comunidades bahá’ís locais.1 Nas encostas do Monte Carmelo, o Santuário de cúpula dourada, onde repousam Seus restos mortais, domina o grandioso complexo de edifícios monumentais e de jardins que constituem o centro administrativo das atividades internacionais da Fé.

Contudo, na percepção pública contemporânea da comunidade bahá’í e de suas atividades, a vida e a Pessoa de Bahá’u’lláh eclipsaram as do Báb. De certo modo, é natural que assim seja, visto que o papel primário de Bahá’u’lláh foi o de cumprir as promessas dO Báb e arquitetar os avanços da Fé. Em certa medida, no entanto, essa circunstância também reflete a saída da nova religião da obscuridade para os palcos da história, saída essa dolorosamente lenta. Em um comentário perspicaz sobre o assunto, o historiador britânico Arnold Toynbee comparou o nível de apreciação da Fé Bahá’í na maioria dos territórios ocidentais com a semelhante impressão limitada que a missão de Jesus Cristo conseguira causar na classe instruída do Império Romano 300 anos após a Sua morte.2 Como a maior parte da atividade pública da comunidade bahá’í nas últimas décadas focou-se na exigente tarefa de apresentar a Mensagem de Bahá’u’lláh e no desenvolvimento das implicações sociais dos Seus ensinamentos para a vida da sociedade, a origem persa da Fé no século XIX tendeu a ser temporariamente eclipsada na percepção coletiva.

De fato, também os bahá’ís são desafiados pelas implicações da noção extraordinária de que a nossa era testemunhou o surgimento de dois Mensageiros de Deus quase contemporâneos. Bahá’u’lláh descreveu esse fenômeno como uma das características distintivas desta nova religião e como um mistério central ao plano de Deus para a unificação da humanidade e o estabelecimento de uma civilização global.3

Fundamental ao conceito bahá’í de evolução da civilização é uma analogia que se encontra tanto nos escritos dO Báb quanto nos de Bahá’u’lláh, a qual traça um paralelo entre o processo pelo qual a raça humana foi gradualmente desenvolvendo a civilização e aquele pelo qual o indivíduo passa durante estágios sucessivos de infância, adolescência e maturidade. A ideia elucida a relação que os bahá’ís veem entre as Missões dos dois Fundadores de sua religião.

Tanto O Báb quanto Bahá’u’lláh — o primeiro de maneira implícita e o segundo de maneira explícita — descrevem a raça humana como estando no limiar de sua maturidade coletiva. Além do papel dO Báb como Mensageiro de Deus, Seu advento marca a fruição do processo de refinamento da natureza humana cultivado por milhares de anos de Revelação divina. Nesse sentido, Ele pode ser visto como um portal pelo qual a humanidade precisa passar à medida que assume as responsabilidades da maturidade. Sua brevidade, em si, parece ser um símbolo do quão relativamente repentina foi essa transição.4

No nível do indivíduo, tão logo uma pessoa atravessa, em seu desenvolvimento, o limiar crítico da maturidade, os desafios e oportunidades da fase adulta se lhe acenam. Os potenciais nascentes da vida humana devem, agora, encontrar expressão nos longos anos de responsabilidade e realização: elas se concretizam através do casamento, da profissão, da família e do serviço à sociedade. Na vida coletiva da sociedade, essa é a missão de Bahá’u’lláh, o Mensageiro de Deus universal previsto nas escrituras de todas as religiões mundiais.


Contudo, no final do século XIX, era O Báb quem figurava como a Personalidade Central da nova religião aos olhos dos ocidentais que dela tomaram conhecimento. Escrevendo para o periódico americano Forum, em 1925, a crítica literária francesa Jules Bois recordava o extraordinário impacto que a história dO Báb continuava a ter, no final do século XIX, sobre a opinião dos europeus instruídos:

Toda a Europa estava tomada por piedade e indignação [...] Entre os littérateurs da minha geração, na Paris de 1890, o martírio do Báb era um assunto ainda tão fresco quanto o tinha sido na primeira vez em que Sua morte foi anunciada em 1850. Escrevemos poemas sobre Ele. Sarah Bernhardt suplicou a Catulle Mendès uma peça de teatro sobre essa tragédia histórica.5

Escritores tão diversos quanto Joseph Arthur de Gobineau, Edward Granville Browne, Ernest Renan, Aleksandr Tumanskiy, A.L.M. Nicolas, Viktor Rosen, Clément Huart, George Curzon, Matthew Arnold e Leon Tolstoy foram afetados pelo drama espiritual que se desdobrou na Pérsia em meados do século XIX. Foi somente no início do século XX que o termo Causa Bahá’í — o qual a própria religião já havia adotado para si desde os anos 1860 — substituiu a designação movimento Bábí usado até então no Ocidente.6

Joseph Arthur de Gobineau
Edward Granville Browne
Ernest Renan
A.L.M. Nicolas
George Curzon
Matthew Arnold
Leo Tolstoy

Que este tenha sido o caso foi, sem dúvida, um reflexo do quanto a breve, mas incandescente vida dO Báb parece ter alcançado e encarnado os ideais culturais que dominaram o pensamento europeu durante a primeira metade do século XIX, e que exerceram uma influência poderosa na imaginação ocidental por muitas décadas seguintes. O conceito comumente utilizado para descrever o curso do desenvolvimento cultural e intelectual europeu durante as primeiras cinco ou seis décadas do século XIX é o Romantismo. No início do século, o pensamento europeu havia começado a olhar para além das preocupações do racionalismo árido e mecanicista do Iluminismo, e em direção a uma outra dimensão da existência: a estética, o emocional, a intuição, o místico, o natural, o irracional. Literatura, filosofia, história, música e artes, todos foram fortemente influenciados e gradualmente exerceram uma influência solidária na mente popular.

Na Inglaterra, onde a tendência já estava ganhando força no início do século, um dos efeitos foi a produção da talvez mais espetacular onda de poesia lírica que a língua inglesa jamais testemunhou. Nas duas ou três décadas seguintes, essas percepções iniciais encontraram eco poderoso por toda a Europa ocidental. Uma nova ordem das coisas, um mundo inteiramente novo, estava ao alcance, se ao menos a humanidade fosse suficientemente ousada. Libertados pela agitação intelectual das décadas anteriores, poetas, artistas e músicos concebiam a si mesmos como a voz de imensas capacidades criativas latentes na consciência humana que buscavam se expressar; como profetas moldando uma nova concepção da natureza e da sociedade humanas. Com a validade da religião tradicional colocada agora em cheque, figuras míticas e eventos do passado clássico eram chamados a servir como veículos para esse Ideal heroico:

Sofrer as penas que a Esperança quer infinitas;
Perdoar malfeitos mais negros que a Morte ou a Noite;
Desafiar o Poder que parece Onipotente;
Amar e suportar; ter esperança até que a Esperança crie
De seu próprio naufrágio a coisa que contempla […]
Isto, e só isto, é Vida, Ventura, Império e Vitória.7

Os mesmos anseios haviam emergido na América nas décadas precedentes à Guerra Civil e deixaram uma marca indelével na consciência coletiva. Todos os transcendentalistas tornaram-se profundamente atraídos pela literatura mística do Oriente: a Bhagavad Gita, o Ramayana e os Upanishads, assim como as obras dos grandes poetas islâmicos Rúmí, Háfiz e Sa’dí. O efeito disso pode ser apreciado nos escritos influentes de Emerson para a Escola de Teologia de Harvard:

Eu anseio por aquela hora em que a suprema Beleza — que arrebatou as almas dos Homens do oriente, especialmente a dos hebreus, e através de seus lábios pronunciou oráculos para todos os tempos —, falará também no Ocidente [...] Busco o novo Mestre, que seguirá tão tenazmente aquelas leis brilhantes, que Ele as verá completarem o ciclo; [...] e verá o mundo ser o espelho da alma; e contemplará a identidade da lei da gravitação com coração puro; e mostrará [...] que Dever, Ciência, Beleza e Alegria são uma coisa só.8

Na medida em que o século avançava, o otimismo Romântico se viu cada vez mais mergulhado nos sucessivos desapontamentos e derrotas do fervor revolucionário que ele havia ajudado a fomentar. Sob pressão de mudanças científicas e tecnológicas, a cultura do materialismo filosófico, que a especulação iluminista havia originalmente despertado, gradualmente se consolidou. As guerras e revoltas de meados do século contribuíram ainda mais para o clima do realismo, um reconhecimento de que grandes ideais devem de alguma maneira ser reconciliados com as obstinadas circunstâncias da natureza humana.

Contudo, mesmo na relativamente sóbria atmosfera do discurso público vitoriano os anseios românticos mantiveram uma potente influência na consciência ocidental. Eles produziam uma susceptibilidade aos impulsos espirituais que, conquanto distinta daquela que caracterizara as décadas de abertura do século, agora influenciava um público mais amplo. Se a figura revolucionária de Prometeu não mais dialogava com o pensamento inglês da época, a lenda arturiana alcançou a esperança popular, misturando o idealismo juvenil com os entendimentos da maturidade e, em função disso, capturando a imaginação de milhões de pessoas:

A velha ordem muda, cedendo lugar ao novo
E Deus se cumpre de muitas maneiras,
Para que um bom costume não corrompa o mundo.9

Não surpreende que, nas mentes formadas nesse meio cultural, a figura dO Báb tenha exercido uma fascinação imperiosa na medida em que os ocidentais se familiarizavam com Sua história nos anos finais do século XIX. Particularmente atraente era a pureza de Sua vida, a nobreza de Seu caráter imaculado que havia conquistado o coração de muitos entre seus compatriotas, os quais chegavam a Ele desconfiados ou mesmo como inimigos, mas acabavam oferecendo suas vidas por Sua causa. As palavras que O Báb dirigiu ao primeiro grupo de discípulos indicam a natureza dos padrões morais que Ele estabeleceu como meta para aqueles que respondessem ao Seu chamado:

Purificai vossos corações dos desejos terrenos e deixai que as virtudes angelicais sejam vosso adorno. [...] Os dias em que se julgava suficiente a vã adoração chegaram ao fim. Veio o tempo em que nada senão o mais puro motivo, apoiado por ações de imaculada pureza, pode ascender ao trono do Altíssimo e lhe ser aceitável. [...] Suplicai ao Senhor vosso Deus que não permita que qualquer laço terreno, afeto mundano ou ocupação efêmera embacie a pureza ou torne amarga a doçura dessa graça que flui através de vós.10

Pureza de coração aliada com coragem e disposição para o autossacrifício foram as características que os observadores ocidentais consideraram profundamente inspiradoras. Os comentários de Ernest Renan e outros traçaram o paralelo inescapável de Sua vida com a de Jesus Cristo. Como o drama extraordinário dos Seus últimos momentos de vida demonstraram,11 O Báb poderia a qualquer momento ter salvado a Si mesmo, bem como poderia ter subjugado aqueles que — tirando vantagem da insensatez dos Seus adversários e da superstição da plebe —, O perseguiram. No entanto, Ele desdenhou tal atitude e aceitou ser morto pelas mãos de Seus inimigos apenas quando satisfeito de que Sua missão havia sido completada inteiramente e em conformidade com a Vontade de Deus. Seus seguidores, que haviam se despojado de todos os apegos e benefícios mundanos, foram barbaramente massacrados pelos adversários que haviam jurado — pelo Alcorão — poupar-lhes as vidas, e que vergonhosamente abusaram de suas esposas e filhos após a morte deles. Renan escreve:

Des milliers de martyrs sont accourus pour lui avec l’allégresse au devant de la mort. Un jour sans pareil peut-être dans l’histoire du monde fut celui de la grande boucherie qui se fit des Bábís, à Téhéran. On vit ce jour-là dans les rues et les bazars de Téhéran, dit un narrateur qui a tout su d’original, un spectacle que la population semble devoir n’oublier jamais. ... Enfants et femmes s’avançaient en chantant un verset qui dit: En vérité nous venons de Dieu et nous retournons à Lui.12
A praça do quartel em Tabríz onde o Báb foi martirizado

Pureza de coração e coragem moral eram combinadas com um idealismo que a maioria dos observadores ocidentais podia prontamente identificar. No século XIX, a Pérsia para a qual O Báb Se dirigiu, e que havia sido um dia uma das maiores civilizações do mundo, havia se tornado objeto de desalento e desprezo aos olhos dos visitantes estrangeiros. Uma população ignorante, apática e extremamente supersticiosa havia se tornado presa de um clero muçulmano profundamente corrupto e do regime brutal dos xás da dinastia Qájár. O Islã xiita havia, em sua maioria, degenerado em uma massa de legalismos supersticiosos e irracionais. A segurança da vida e da propriedade estava condicionada inteiramente aos caprichos das autoridades.

Tal era a sociedade que O Báb chamou para a reflexão e a autodisciplina. Uma Nova Era havia surgido; Deus demandava pureza de coração no lugar de fórmulas religiosas, uma condição interna que deveria ser combinada com asseio em todos os aspectos da vida cotidiana; a verdade era uma meta a ser alcançada, não através da cega imitação, mas através de esforço pessoal, oração, meditação e desapego dos desejos. A natureza dos relatos que escritores como Gobineau, Browne e Nicolas puderam ouvir de seguidores dO Báb que haviam conseguido sobreviver pode ser apreciada nas palavras com que Mullá Husayn-i-Bushrú’í descreveu o efeito do seu primeiro encontro com O Báb:

Senti que possuía tal coragem e tal poder que se o mundo, todos os seus povos e seus potentados fossem se levantar contra mim, eu só e destemido resistiria a sua investida. O universo parecia-me nada mais que um punhado de pó em minha mão. Eu parecia ser a Voz de Gabriel personificada, chamando toda a humanidade: Despertai, pois vede!, despontou a Luz do amanhecer.13

Observadores europeus, visitando o país muito tempo depois do martírio dO Báb, foram arrebatados pela distinção moral alcançada pela comunidade bahá’í persa. Ao explicar para leitores ocidentais o sucesso das atividades de ensino bahá’í entre a população persa, em contraste com os esforços ineficientes dos missionários cristãos, E.G. Browne disse:

Para o observador ocidental, porém, o que mais chama a atenção é a completa sinceridade dos Bábís [sic], seu destemido desprezo da morte e da tortura sofrida pelo bem de sua religião, sua plena convicção quanto à verdade de sua fé, sua conduta geralmente admirável em relação à humanidade e, especialmente, em relação a seus irmãos de fé.14

A figura dO Báb agradou grandemente as sensibilidades estéticas que o Romantismo havia despertado. Os relatos remanescentes de todos os que O conheceram, com exceção daqueles cuja posição fora ameaçada por Sua missão, descrevem a extraordinária beleza de Sua pessoa e de Seus movimentos físicos. Sua voz, em particular, quando entoava as epístolas e orações por Ele revelas, possuía uma doçura que cativava os corações. Até mesmo Suas vestimentas e o mobiliário de Sua casa simples eram marcados por um grau de refinamento que parecia refletir a beleza espiritual interior que tão fortemente atraía Seus visitantes.

Alguns dos itens pessoais do Báb

Referência particular deve ser feita à originalidade do pensamento dO Báb e à maneira como Ele escolheu expressá-lo. No decorrer de todas as vicissitudes do século XIX, a mente europeia ainda estava apegada ao ideal do homem do destino que, através da força criativa da sua genialidade ilimitada, poderia traçar um novo caminho para as questões humanas. No começo do século, Napoleão Bonaparte parecia representar tal fenômeno, e nem mesmo a desilusão que acompanhou sua traição a esse ideal desencorajou a poderosa corrente de individualismo que foi um dos principais legados do movimento Romântico para aquele século e também, de fato, para o nosso.

Dos escritos dO Báb emergem uma nova e abrangente abordagem da verdade religiosa. A destemida ousadia desta mensagem foi uma das principais razões da violenta perseguição que Sua obra desencadeou entre o clero obscurantista muçulmano, que dominava o discurso da Pérsia do século XIX. Esses conceitos desafiadores foram pareados com uma linguagem de caráter inovador.

Em sua forma literária, o árabe possui uma beleza quase hipnotizante — uma beleza que, na linguagem do Alcorão, atinge o nível do sublime, o qual muçulmanos de todas as épocas consideraram como irreplicável por qualquer homem mortal. Para todos os muçulmanos, independentemente de sua seita, cultura ou nação, o árabe é, por excelência, a língua da Revelação. A prova da origem divina do Alcorão não consiste essencialmente no seu caráter literário, mas sim no poder de seus versos de transformar o comportamento e as atitudes humanas. Ainda que, assim como Jesus e Muhammad, O Báb tenha recebido pouco ensino formal, Ele usou tanto o árabe quanto Seu persa nativo, alternadamente, de acordo com as necessidades do Seu discurso.

Para Seus ouvintes, o sinal mais dramático da autoridade espiritual dO Báb foi que, pela primeira vez em mais de doze séculos, os ouvidos humanos foram privilegiados por poderem ouvir novamente a elocução inimitável da Revelação. De fato, em certo modo, o Alcorão foi superado. Epístolas, meditações e orações de poder eletrizante fluíam sem esforço dos lábios dO Báb. Em um período extraordinário de dois dias, Suas escrituras excederam em quantidade todo o texto do Alcorão, que representava o fruto de vinte e três anos de produção profética de Muhammad. Nenhum de Seus oponentes eclesiásticos ousou confrontá-lo em espaço público: Verdadeiramente, fizemos da revelação de versículos um testemunho de Nossa mensagem a vós, ou seja., no Alcorão, Deus havia explicitamente estabelecido o milagre do poder do Livro como Sua prova suprema. Acaso podeis produzir uma única letra que se compare com estes versículos? Apresentai, pois, vossas provas. [...]15

Além disso, apesar de Sua habilidade de usar as formas tradicionais do árabe quando escolhia assim fazer, O Báb não demonstrou nenhuma hesitação em abandonar essas convenções de acordo com os ditames de Sua mensagem. Ele recorreu livremente a neologismos, novas construções gramaticais e outras variações da norma culta sempre que os termos existentes se mostrassem veículos inadequados para a revolucionária conceituação da realidade espiritual que Ele vigorosamente apresentava. Censurado por eruditos mujtahids xiitas em Seu julgamento em Tabríz (1848) por violações às regras gramaticais, O Báb lembrou Seus seguidores que a Palavra de Deus é a Criadora da linguagem assim como de todas as outras coisas, moldada de acordo com o Seu propósito. Através do poder de Sua Palavra, Deus diz , e, assim, é.

O princípio é tão antigo quanto a religião profética; — é de fato central a ela:

No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. [...] Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. [...] [Ele] estava no mundo, e o mundo foi feito por ele e o mundo não o conheceu.16

As implicações da resposta da humanidade ao Mensageiro de Deus em Seu advento são abordadas em um trecho de uma das maiores obras de Bahá’u’lláh, Os Quatro Vales. Citando o poeta persa Rumí, Ele diz:

Conta-se uma história a respeito de um sábio místico que partiu em viagem na companhia de um erudito gramático. Chegaram eles à praia do Mar da Grandeza. O sábio, invocando a Deus, prontamente jogou-se às ondas, mas o gramático ficou perdido em seus raciocínios, os quais eram como palavras escritas n’água. O sábio chamou por ele: Por que não segues adiante? Ao que o gramático respondeu: Ó irmão, não ouso avançar mais. É necessário que eu retorne! Então o sábio bradou: Esquece o que leste nos livros de Síbavayh e Qawlavayh, de Ibn-i-Hájib e Ibn-i-Málik, e atravessa as águas!
A morte do ego é aqui necessária,
Não a tal arte da composição:
Esforça-te, pois, por seres nada
E caminha sobre o mar então.17

Para os jovens seminaristas que se mostraram devotadamente sensíveis aO Báb, a originalidade de Sua linguagem, longe de criar um obstáculo para a apreciação de Sua mensagem, representava, em si, outro sinal convincente da Missão Divina que Ele proclamava. Ela os desafiava a romper com os padrões e as percepções familiares, a ampliar suas faculdades intelectuais, a descobrir nessa nova Revelação uma verdadeira liberdade do espírito.

Independente de quão desconcertantes alguns dos escritos dO Báb viriam a ser para Seus futuros admiradores europeus, estes também O percebiam como uma figura singular, que havia encontrado em Sua própria alma a visão transcendente de uma realidade nova e que havia agido sem hesitação de acordo com os imperativos que ela representava. A maioria de seus comentários tendiam a refletir a mentalidade dualística vitoriana e eram apresentados como observações de natureza científica daquilo que seus autores consideravam um importante fenômeno religioso e cultural. Na introdução de sua tradução de A Traveler’s Narrative (A Narrativa de um Viajante), por exemplo, o professor de Cambridge, Edward Granville Browne, esforçou-se para justificar o incomum grau de atenção que ele devotou ao movimento bábí em suas pesquisas:

[...] aqui ele [o estudante de religião] pode contemplar personalidades que, com o passar do tempo, se tornam heróis e semideuses ainda intocados por mitos e fábulas; ele pode examinar, à luz do testemunho simultâneo e independente, uma daquelas estranhas explosões de entusiasmo, fé, devoção fervorosa e heroísmo indomável — ou fanatismo, se quiserdes — que estamos acostumados a associar à história mais primitiva da raça humana; ele pode testemunhar, em uma palavra, o nascimento de uma fé que bem pode conquistar um lugar entre as grandes religiões do mundo.18

O efeito eletrizante que o fenômeno exerceu, contudo — até mesmo no cauteloso e cientificamente treinado intelecto europeu e mesmo no decorrer de muitas décadas —, pode ser apreciado nas considerações finais de um importante artigo de Browne publicado em Religious Systems of the World, em 1892, o ano da ascensão de Bahá’u’lláh:

Acredito que já vos relatei o suficiente para deixar claro que os propósitos que essa religião visa não são triviais nem indignos da nobre devoção e heroísmo do seu Fundador e de seus seguidores. São as vidas e mortes deles, sua esperança que não conhece o desespero, seu amor que não conhece o esfriamento, sua firmeza que não conhece a vacilação, que marcam esse maravilhoso movimento com um caráter inteiramente próprio. [...] Não é uma coisa pequena ou fácil de suportar o que eles sofreram, e certamente o que eles consideram que vale a própria vida vale a pena tentar entender. Não digo nada da poderosa influência que, como acredito, a Fé Bábí exercerá no futuro, nem da nova vida que por ventura possa soprar num povo morto; pois, tenha ela sucesso ou não, o esplêndido heroísmo dos mártires bábís é algo eterno e indestrutível.19

Tão poderosa foi essa impressão que a maioria dos observadores ocidentais tendiam a perder de vista o propósito dO Báb em função do fascínio por Sua vida e pessoa. O próprio Browne, por cuja pesquisa se tornaria proeminente entre a segunda geração de autoridades europeias do movimento bábí, foi incapaz de compreender o papel que a missão dO Báb exerceu preparando o caminho para o trabalho de Bahá’u’lláh ou, de fato, a maneira como as conquistas de Bahá’u’lláh representavam o triunfo e a consagração dO Báb.20 O escritor francês A.L.M. Nicolas foi muito mais afortunado, em parte simplesmente porque viveu tempo suficiente para ganhar uma perspectiva histórica mais ampla. Inicialmente, contrário ao que ele entendia como Bahá’u’lláh suplantando o Báb, ele, por fim, veio a apreciar a visão de que O Báb era um de dois sucessivos Manifestantes de Deus, cuja Missão compartilhada é a unificação e a pacificação do planeta.21


Esta breve contextualização histórica poderá ser útil para se entender o ímpeto dos ensinamentos dO Báb. Em certo sentido, Sua mensagem é abundantemente clara. Como Ele enfatizou repetidamente, o objetivo de Sua missão e de todos os Seus empreendimentos era a proclamação do iminente advento dAquele que Deus tornará manifesto, aquela Manifestação universal de Deus prevista nas escrituras religiosas ao longo das eras da história da humanidade. De fato, todas as leis reveladas pelo Báb destinavam-se simplesmente a preparar Seus seguidores para reconhecer e servir o Prometido quando do Seu advento:

Nós plantamos o Jardim do Bayán [isto é, Sua Revelação] em nome d’Aquele que Deus tornará manifesto, e vos concedemos permissão para ali viver até o tempo de Sua manifestação; [...]22
Uma epístola do Báb iluminada

A missão dO Báb era preparar a humanidade para a chegada de uma era de transformação muito além de qualquer coisa que a geração que o ouvia pudesse entender. O dever deles era purificar seus corações para que pudessem reconhecer Aquele por Quem o mundo inteiro aguardava e servir ao estabelecimento do Reino de Deus. O Báb era, assim, a Porta pela qual essa tão esperada teofania universal apareceria.

No tempo do aparecimento d’Aquele que Deus tornará manifesto, os eruditos mais distinguidos e os homens mais humildes serão julgados da mesma forma. Quantas vezes os mais insignificantes dos homens admitiam a verdade, enquanto os mais eruditos permaneciam envoltos em véus.23

Significativamente, as referências iniciais ao Prometido Libertador aparecem na primeira grande obra dO Báb, o Qayyúmu'l-Asmá', passagens reveladas por Ele na noite da declaração de Sua missão. Toda a obra é ostensivamente uma coleção de comentários sobre a Sura de José no Alcorão, que O Báb interpreta como prenunciando a vinda do José divino, aquele Remanescente de Deus que cumprirá as promessas do Alcorão e de todas as outras escrituras do passado. Mais do que qualquer outra obra, o Qayyúmu'l-Asmá' justificava para os bábís as reivindicações proféticas de seu Autor e serviu, durante toda a parte inicial do ministério dO Báb, como o Alcorão ou a Bíblia de Sua comunidade.

Ó povos do Oriente e do Ocidente! Sede tementes a Deus no que concerne a Causa do verdadeiro José, e não O troqueis por um preço desprezível estabelecido por vós mesmos, nem por uma bagatela de vossas possessões terrenas, a fim de que vós, em absoluta verdade, sejais por Ele louvados como incluídos entre os piedosos que estão próximos desta Porta.24

Em 1848, apenas dois anos antes de Seu martírio, O Báb revelou o Bayán, o livro que serviria como principal repositório de Suas leis e a expressão mais completa de Suas doutrinas teológicas. O livro é essencialmente uma homenagem prolongada ao Prometido que viria, agora invariavelmente denominado Aquele que Deus tornará manifesto. Esta designação ocorre cerca de 300 vezes no livro, aparecendo em praticamente todos os capítulos, não importando qual o assunto aparente de cada um deles. O Bayán e tudo o que ele contém dependem de Sua vontade; todo o Bayán contém de fato nada além de Sua menção; o Bayán é um humilde presente de seu Autor para Aquele que Deus tornará manifesto; alcançar Sua Presença é alcançar a Presença de Deus. Ele é o Sol da Verdade, o Advento da Verdade, o Ponto da Verdade, a Árvore da Verdade:25

Juro pela santíssima Essência de Deus — enaltecido e glorificado é Ele — que, no dia do aparecimento d’Aquele que Deus tornará manifesto, mil exames minuciosos do Bayán não serão comparáveis ao exame minucioso de um só versículo a ser revelado por Aquele a que Deus tornará manifesto.26

Algumas das mais poderosas referências a este assunto estão contidas em epístolas que o Báb dirigiu diretamente Àquele que Deus em breve tornaria manifesto:

Do nada absoluto, ó grande e onipotente Mestre, através do poder celestial de Tua grandeza, Tu me trouxeste à existência e me levantaste para proclamar esta Revelação. Em nenhum outro, senão em Ti, depositei minha confiança; não me apeguei a nenhuma vontade senão à Tua. Tu és, em verdade, o Todo-Suficiente e, atrás de Ti, está o Deus verdadeiro, Aquele que sobre todas as coisas predomina.27

Além desse tema central, os escritos dO Báb apresentam um problema difícil até para os estudiosos ocidentais familiarizados com as línguas persa e árabe. Em um grau considerável, isso se deve ao fato de que as obras frequentemente tratam de questões mínimas da teologia islâmica xiita, que eram de importância visceral para Seus ouvintes, cujas mentes haviam sido inteiramente formadas neste estreito mundo intelectual e não podiam conceber outro qualquer. O estudo dos princípios espirituais organizadores desses escritos sem dúvida ocupará gerações de candidatos a doutorado, à medida que a comunidade bahá'í continua a se expandir e sua influência na vida da sociedade se consolida. Para os bábís, que receberam os escritos em primeira mão, grande parte de seu significado residia na demonstração do fácil domínio que o Báb evidenciava ao tratar das questões teológicas mais abstrusas, questões às quais Seus oponentes eclesiásticos haviam dedicado anos de estudo e disputa meticulosos. O efeito disso foi que, para os seguidores dO Báb, dissolveram-se as bases intelectuais sobre as quais repousava o sistema teológico islâmico predominante.

Uma característica relativamente acessível dos escritos dO Báb são as leis que eles contêm. O Báb revelou o que, à primeira vista, parecem ser os elementos essenciais de um completo sistema de leis que trata tanto de questões da vida cotidiana como da organização social. A pergunta que vem imediatamente à mente de qualquer leitor ocidental, mesmo aqueles com um conhecimento superficial da história bábí, é a dificuldade de conciliar esse corpo de leis que, ainda difuso, bem poderia ter prevalecido por vários séculos, com a previsão reiterada dO Báb de que Aquele que Deus tornará manifesto apareceria em breve e lançaria os fundamentos do Reino de Deus. Embora ninguém soubesse a hora de Sua vinda, O Báb garantiu a vários de Seus seguidores que eles viveriam para vê-Lo e servi-Lo. Alusões enigmáticas ao ano nove e ao ano dezenove aumentavam a expectativa na comunidade bábí. Ninguém poderia afirmar falsamente ser Aquele que Deus tornará manifesto, afirmou O Báb, e ter sucesso em tal reivindicação.

É em outro lugar que devemos buscar o significado imediato das leis do Bayán. A prática do Islã, particularmente em sua forma xiita, tornara-se uma questão de adesão a ordenanças e prescrições detalhadas minuciosamente, continuamente elaboradas por gerações de mujtahids, e aplicadas rigidamente. A sharia, ou sistema de direito canônico, era, de fato, a personificação da autoridade do clero sobre não apenas a massa da população, mas também sobre a própria monarquia. Continha tudo o que a humanidade precisava ou poderia usar. A boca de Deus estava fechada até o Dia do Juízo, quando os céus se partiriam, as montanhas se dissolveriam, os mares ferveriam, as trombetas despertariam os mortos de seus túmulos, e Deus desceria cercado por anjos fileira após fileira.

Para os que reconheceram O Báb, as disposições legais do Bayán destruíram de um só golpe a autoridade institucional do clero, fazendo toda a estrutura da sharia irrelevante.28 Deus falara de novo. Desafiado por um status quo religioso ultrapassado que alegava agir em nome do Profeta, O Báb vindicou Sua reivindicação exercendo, em sua plenitude, a autoridade e os poderes que o Islã reservava aos Profetas. Mais do que qualquer outro ato de Sua missão, foi essa ousadia que Lhe custou a vida, mas o efeito foi libertar as mentes e os corações de Seus seguidores como nenhuma outra influência poderia ter feito. O fato de que tantas leis do Bayán devessem ser em breve substituídas ou significativamente alteradas por aquelas estabelecidas por Bahá'u'aháh no Kitáb-i-Aqdas29 foi, na perspectiva da história e aos olhos da massa dos bábís que aceitaram a nova Revelação, de pouco significado, uma vez que o objetivo dO Báb fora cumprido.

Com relação a isso, é interessante observar como O Báb lidou com questões que não faziam parte de Sua missão, mas que, não fossem abordadas, poderiam ter se tornado sérios obstáculos ao Seu trabalho, por estarem profunda e firmemente inseridas na consciência religiosa muçulmana. O conceito de jihád ou guerra santa, por exemplo, é um mandamento estabelecido no Alcorão como obrigatório para todos os homens muçulmanos saudáveis, e cuja prática figurou proeminentemente nas sociedades islâmicas ao longo dos tempos. No Qayyúmu'l-Asmá', O Báb Se esforça por incluir uma forma de jihád, como uma das prerrogativas do grau que Ele reivindica para Si mesmo. Ele, no entanto, tornou qualquer prática de jihád inteiramente dependente de Sua própria aprovação, uma aprovação que Ele Se recusou a dar. Posteriormente, o Bayán, embora represente a promulgação formal das leis da nova Dispensação, faz apenas uma referência passageira a este assunto que há tanto tempo parecia fundamental para o exercício da Vontade de Deus. Ao atravessar a Pérsia para proclamar a nova Revelação, portanto, os seguidores dO Báb se sentiam livres para se defender quando atacados, mas suas novas crenças não incluíam o antigo mandato islâmico de fazer guerra a outros com propósitos de conversão.30

Na perspectiva da história, é óbvio que a intenção dessas leis rígidas e exigentes era causar uma mobilização espiritual, e nisso elas tiveram um sucesso brilhante. Prevendo claramente aonde levaria o caminho que Ele tomou, O Báb preparou Seus seguidores, através de um regime severo de oração, meditação, autodisciplina e solidariedade na vida comunitária, para enfrentar as consequências inevitáveis de seu compromisso com a Sua missão.

As prescrições no Bayán se estendiam, no entanto, muito além daqueles propósitos imediatos. Consequentemente, quando Bahá'u'lláh assumiu a tarefa de estabelecer os fundamentos morais e espirituais da nova Dispensação, Ele os construiu diretamente sobre o trabalho dO Báb. O Kitáb-i-Aqdas, o Livro Mãe da era bahá'í, embora não seja apresentado na forma de um código sistemático, reúne para os bahá'ís as principais leis de sua fé. As orientações relacionadas à conduta individual ou à prática social inserem-se numa estrutura de passagens que convocam o leitor a uma nova e desafiadora concepção da natureza e do propósito humanos. Um erudito russo do século XIX, que fez uma das primeiras tentativas de traduzir o livro, comparou a pena de Bahá'u’lláh escrevendo o Aqdas a um pássaro, já subindo nos cumes do céu, já descendo para tocar nas questões mais singelas das necessidades diárias.

A conexão com os escritos dO Báb é logo aparente para quem examina as disposições dos Aqdas. As leis do Bayán que não têm relevância para a era vindoura são revogadas. Outras prescrições são reformuladas, geralmente através da flexibilização de seus requisitos e da ampliação de suas aplicações. E ainda outras disposições do Bayán são mantidas virtualmente em sua forma original. Um exemplo óbvio destas últimas é a adoção por Bahá'u'lláh do calendário do Báb, que consiste em 19 meses de 19 dias cada, com provisão de um período intercalar de quatro ou cinco dias dedicados a reuniões sociais, atos de caridade e troca de presentes com amigos e familiares.


Além das as leis específicas do Bayán, os escritos dO Báb também contêm as sementes de novas perspectivas e conceitos espirituais que haviam de animar o empreendimento mundial bahá’í. A partir da crença universalmente aceita pelos muçulmanos de que Deus é uno e transcendente, O Báb claramente secciona o emaranhado de doutrinas conflitantes e especulações místicas que se acumulavam ao longo de mais de 12 séculos de história islâmica. Deus não é apenas Uno e Único; Ele é totalmente incognoscível para a humanidade e sempre o será. Não há conexão direta entre o Criador de todas as coisas e Sua criação.

A única via de aproximação à Realidade Divina que está por trás de tudo que existe é através da sucessão de Mensageiros que Ele envia. Deus manifesta-Se à humanidade dessa maneira, e é na Pessoa de Sua Manifestação que a consciência humana pode se informar tanto da Vontade divina quanto dos atributos divinos. O que as escrituras descreveram como encontrar a Deus, conhecer a Deus, adorar a Deus, servir a Deus referem-se à resposta da alma quando reconhece a nova Revelação. O advento do Mensageiro de Deus é ele próprio o Dia do Juízo. O Báb nega, assim, a validade da crença sufi na possibilidade da fusão mística do indivíduo com o Ser Divino através da meditação e de práticas esotéricas:

Não enganeis a vós próprios, pensando que estais sendo virtuosos por amor a Deus quando não estais. Pois, se verdadeiramente fizésseis vossas obras para Deus, vós as estaríeis realizando para Aquele que Deus tornará manifesto, e Lhe magnificaríeis o Nome. [...] Ponderai um pouco, para que vos não excluais como por um véu d’Aquele que é o Alvorecer da Revelação.31

Avançando muito além da concepção islâmica ortodoxa de uma sucessão de Profetas que termina com a missão de Muhammad, o Báb também declara que a Revelação de Deus é um fenômeno recorrente e sem fim, cujo objetivo é o treinamento e desenvolvimento gradual da humanidade. À medida que a consciência humana reconhece e responde a cada Mensageiro divino, as capacidades espirituais, morais e intelectuais nela latentes se desenvolvem constantemente, preparando assim o caminho para o reconhecimento da próxima Manifestação de Deus.

As Manifestações de Deus — incluindo Abraão, Moisés, Jesus e Muhammad — são em essência uma só, embora suas pessoas físicas sejam distintas, assim como o são aqueles aspectos de seus ensinamentos que se relacionam com uma sociedade humana em constante evolução. Pode-se dizer que cada um tem dois graus: o humano e o divino. Cada um traz duas provas de Sua missão: Sua própria Pessoa e as verdades que ensina. Qualquer um desses testemunhos é suficiente para toda alma sincera; a questão é a pureza de intenção, e essa qualidade humana é particularmente valorizada nos escritos dO Báb. Através da unidade de fé, razão e comportamento, cada pessoa pode, com as confirmações de Deus, alcançar aquele estágio de desenvolvimento em que cada um busca para os outros as mesmas coisas que deseja para si.

Aqueles que acreditam sinceramente no Mensageiro cuja fé seguem são preparados por Ele para reconhecer a próxima Revelação da única Fonte Divina. Tornam-se, assim, instrumentos através dos quais o Verbo de Deus continua a realizar seu propósito na vida da humanidade. Esse é o verdadeiro significado das referências que as religiões passadas faziam a ressurreição. Céu e inferno, da mesma forma, não são lugares, mas condições da alma. Um indivíduo entra no paraíso neste mundo quando reconhece a Revelação de Deus e inicia o processo de aperfeiçoar sua natureza, um processo que não tem fim, uma vez que a própria alma é imortal. Do mesmo modo, os castigos de Deus são inerentes à negação de Sua Revelação e à desobediência a leis cuja operação ninguém pode escapar.

Muitos desses conceitos nos escritos dO Báb podem recorrer a várias referências, ou pelo menos sugestões, nas escrituras das religiões anteriores. Fica óbvio, pelo que foi dito, que O Báb coloca tais conceitos em um contexto inteiramente novo e extrai deles implicações muito distintas das que eles carregavam em qualquer sistema religioso anterior.

O Báb descreveu Seus ensinamentos como abrindo o vinho selado referido tanto no Alcorão quanto no Novo Testamento. O Dia de Deus não contempla o fim do mundo, mas sua renovação perene. A Terra continuará a existir, assim como a raça humana, cujas potencialidades se desenvolverão progressivamente em resposta aos impulsos sucessivos do Divino. Todas as pessoas são iguais aos olhos de Deus, e a humanidade já avançou ao ponto em que, com o iminente advento d’Aquele que Deus tornará manifesto, não há necessidade nem lugar para uma classe privilegiada de clero. Os crentes são encorajados a ver a intenção alegórica das passagens das escrituras que eram antes vistas como referências a eventos mágicos ou sobrenaturais. Como Deus é uno, da mesma forma, a realidade fenomenal é una: um todo orgânico animado pela Vontade Divina.

O contraste entre essa concepção evolucionária e supremamente racional da natureza da verdade religiosa e aquela incorporada pelo xiismo islâmico do século XIX, não poderia ter sido mais dramático. Fundamental para o xiismo ortodoxo — cujas implicações plenas estão hoje expostas no regime da República Islâmica no Irã — era o entendimento literalista do Alcorão, a preocupação com uma adesão meticulosa à sharia, a crença de que a salvação pessoal vem através da imitação (taqlíd) de mentores clericais, e a convicção inflexível de que o Islã é a revelação final e toda-suficiente da verdade de Deus ao mundo. Para uma mentalidade tão estática e rígida, qualquer consideração séria dos ensinamentos dO Báb teria consequências impensáveis.

Os ensinamentos dOBáb, como as leis do Bayán, são enunciados não na forma de uma exposição organizada, mas estão inserido na ampla gama de questões teológicas e místicas abordadas nas páginas de Seus volumosos escritos. É nos escritos de Bahá'u'lláh que, como nas leis de Bayán, essas verdades e preceitos dispersos são adotados, remodelados e integrados em um sistema unificado e coerente de crença. O assunto está muito além do escopo deste breve artigo, mas o leitor encontrará na principal obra doutrinária de Bahá'u'lláh, o Kitáb-i-Íqán (Livro da Certeza), não apenas ecos dos ensinamentos dO Báb, mas uma exposição coerente de seus conceitos centrais.


Finalmente, um aspecto marcante dos escritos dO Báb, que surgiu como um importante elemento da história e da crença bahá’ís, é a missão prevista para os povos do Ocidente e a admiração pelas qualidades que os tornam aptos para ela. Também isto contrastava dramaticamente com o desprezo declarado pelo pensamento farangi e infiel que prevalecia no mundo islâmico de Seu tempo. O progresso científico Ocidental é particularmente enaltecido, por exemplo, assim como a independência de pensamento e a preocupação pelo asseio, as quais o Báb via como características gerais dos ocidentais. Seu apreço não é meramente generalizado, mas aborda mesmo assuntos corriqueiros - tais como sistemas postais e oficinas de tipografia.

Desde o início da missão dO Báb, o Qayyúmu’l-Asmá’ exortava os povos do Ocidente a se erguerem e a abandonarem seus lares para a promoção do Dia de Deus:

Tornai-vos como verdadeiros irmãos na religião única e indivisível de Deus, livres de discriminação, pois verdadeiramente Deus deseja que vossos corações se tornem como espelhos para vossos irmãos de Fé, para que vos encontreis refletidos neles, e eles em vós. Este é o verdadeiro Caminho de Deus, o Todo-Poderoso...32

A um médico britânico que tratou dos ferimentos a Ele infligidos durante Seu interrogatório em Tabríz, O Báb expressou Sua confiança de que, com o tempo, também os ocidentais abraçariam a verdade de Sua missão.

Este tema é poderosamente retomado na obra de Bahá’u’lláh. Uma série de epístolas convocou governantes europeus, tais como a rainha Vitória, Napoleão III, o Kaiser Guilherme I, e o Tzar Alexandre II, para examinarem desapaixonadamente a Causa de Deus. A monarca britânica é calorosamente elogiada pelas ações de seu governo para abolir a escravidão em todo o Império e pelo estabelecimento de um governo constitucional. Talvez o tema mais extraordinário que as cartas contêm seja um chamado, um virtual mandato aos governantes da América e presidentes de suas repúblicas. Eles são convocados a impor a justiça e a derrotar a opressão nestas palavras: ligai, com as mãos da justiça, o que foi partido e esmagai o opressor que viceja, com o bastão dos mandamentos de vosso Senhor.33

Antecipando a contribuição decisiva que as terras e os povos ocidentais estão destinados a dar no estabelecimento das instituições da nova ordem mundial, Bahá’u’lláh escreveu:

No Oriente alvoreceu a Luz de Sua Revelação; no Ocidente surgiram os sinais de Seu domínio. Ponderai isto em vossos corações, ó povos …34

Foi confiada a ‘Abdu’l-Bahá a responsabilidade de assentar as bases deste aspecto distintivo das missões dO Báb e de Bahá’u’lláh. Visitando tanto o Leste Europeu como a América do Norte entre os anos 1911 e 1913, Ele combinou distintos elogios pelas realizações materiais do Ocidente com um apelo urgente para que elas fossem equilibradas pelos elementos fundamentais da civilização espiritual.

Durante os anos da primeira guerra mundial, após o Seu retorno para a Terra Santa, ‘Abdu’l-Bahá redigiu uma série de cartas dirigidas ao pequeno corpo dos seguidores de Bahá’u’lláh nos Estados Unidos e Canadá, chamando-os para se erguer e levar a mensagem bahá’í aos mais remotos cantos do globo. Assim que as condições internacionais permitiram, estes bahá’ís começaram a seguir Suas diretrizes. Seu exemplo tem sido seguido, desde então, pelos membros das muitas outras comunidades bahá’ís ao redor do mundo que se multiplicaram durante as décadas subsequentes.

Nessa foto, um banquete realizado em honra à 'Abdu'l-Bahá no Hotel Great Northern, Nova York em 23 de novembro de 1912. A visita de 'Abdu'l-Bahá à Europa à América do Norte serviu para reforçar as comunididades bahá'ís da região e, por fim, levou à expansão da Fé bahá'í em todo o mundo.

Aos crentes norte-americanos, também, ‘Abdu’l-Bahá confiou a tarefa de lançar as bases das instituições democraticamente eleitas concebidas por Bahá’u’lláh para a administração dos assuntos da comunidade bahá’í. Toda a estrutura do processo decisório do sistema administrativo atual da Fé nos níveis local, nacional e internacional teve sua origem nestas simples assembleias consultivas formadas pelos crentes americanos e canadenses.

Os bahá’ís veem um padrão paralelo de resposta ao mandato divino, embora não reconhecido, na crescente liderança que as nações ocidentais assumiram ao longo do presente século nos esforços para promover a paz global. Isto é particularmente verdadeiro no que diz respeito ao esforço de estabelecer um sistema de ordem internacional. Por sua visão em relação a isto, bem como pela coragem solitária que o esforço para implementá-la requeria, o imortal Woodrow Wilson conquistou um lugar de honra duradouro nos escritos do Guardião da Fé Bahá’í.

Os bahá’ís são igualmente conscientes de que têm sido governos tais como os da Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália que assumiram a liderança no campo dos direitos humanos. A comunidade bahá’í experimentou de primeira mão os benefícios desta preocupação nas exitosas intervenções feitas a favor de seus membros no Irã durante as recorrentes perseguições sob os regimes dos xás Pahlavi e da República Islâmica.

Nada do que tem sido dito sugere uma admiração acrítica das culturas europeia ou norte-americana, seja da parte dO Báb, seja da parte de Bahá’u’lláh; tampouco significa uma aprovação dos fundamentos ideológicos nos quais se baseiam. Longe disso. Bahá’u’lláh adverte, em tons ominosos, sobre o sofrimento e a ruina que acometerão toda a raça humana caso a civilização ocidental siga seu rumo de excessos. Durante Suas visitas à Europa e à América, ‘Abdu’l-Bahá exortou Seus ouvintes, em linguagem comovente, a se libertarem, enquanto houvesse tempo, dos preconceitos racial e nacional, assim como das preocupações materialistas, cujos perigos despercebidos, disse Ele, ameaçavam o futuro de suas nações e de toda a humanidade.


O Santuário do Báb em Haifa

Hoje, um século e meio depois que o Báb inaugurou Sua missão, a influência de Sua vida e de Suas palavras encontrou expressão em uma comunidade global composta por todas as origens existentes na terra. O primeiro ato da maioria dos peregrinos, na sua chegada ao Centro Mundial de sua Fé, é subir o caminho ladeado de flores que leva ao primoroso Santuário que abriga os restos mortais do Báb e colocar suas frontes no limiar de Seu local de repouso. Eles creem firmemente que, em anos futuros, reis peregrinos ascenderão reverentemente a magnífica escadaria em terraços que se ergue desde a base da Montanha de Deus até a entrada do Santuário e colocarão os emblemas de sua autoridade neste mesmo limiar. Em países dos quais chegam os peregrinos, incontáveis crianças de todas as origens e todas as línguas levam hoje os nomes dos companheiros martirizados dO Báb — Tahirih, Quddús, Husayn, Zaynab, Vahid, Anís —, o que pode ser associado a como crianças ao largo das terras do Império Romano começaram a ser chamados, há 2.000 anos, pelos desconhecidos nomes hebreus dos discípulos de Jesus Cristo.

A própria escolha de Bahá’u’lláh para um local de repouso para o corpo de Seu Precursor — trazido da Pérsia com infinita dificuldade — possui grande significado para o mundo bahá’í. Ao longo da história, o sangue dos mártires tem sido a semente da Fé. Na era em que se está testemunhando a gradual unificação da humanidade, o sangue dos mártires bábís tornou-se a semente não meramente de fé pessoal, mas das instituições administrativas que são, nas palavras de Shoghi Effendi, o núcleo e o próprio padrão da Ordem Mundial concebida por Bahá’u’lláh. Esta relação é simbolizada pela suprema posição que o Santuário dO Báb ocupa no progressivo desenvolvimento do centro administrativo da Fé Bahá’í no Monte Carmelo.

Deve haver poucos, dentre o fluxo de peregrinos bahá’ís que hoje entram nestes locais majestosos, cujas mentes não se volvem às conhecidas palavras nas quais O Báb Se despediu 150 anos atrás, dirigidas ao punhado de Seus primeiros seguidores, todos desprovidos de influência e riqueza, e muitos deles destinados, assim como Ele, a logo perder a vida:

O segredo do Dia que está por vir está agora oculto. Não pode ser nem divulgado nem avaliado. O recém-nascido daquele Dia supera os mais sábios e veneráveis homens deste tempo, e os mais humildes e iletrados daquele período ultrapassarão em compreensão os mais eruditos e consumados sacerdotes desta era. Dispersai-vos por toda a extensão desta terra, e com pés firmes e corações santificados preparai o caminho para Sua vinda. Não considereis vossa fraqueza e fragilidade; fixai vosso olhar no invencível poder do Senhor, vosso Deus, o Todo-Poderoso. [...] Erguei-vos em Seu nome, ponde n’Ele vossa inteira confiança e ficai seguros da vitória final.35

Nota do autor: Sou grato ao Dr. Muhammad Afnán e à Srta. Elizabeth Martin pelo aconselhamento e auxílio na preparação deste artigo.

  1. Mullá Husayn-i-Bushru’í. ↑ 
  2. O aniversário do nascimento do Báb é comemorado no dia seguinte à ocorrência da oitava lua nova do ano bahá’í, que ocorre entre meados de outubro e meados de novembro. ↑ 
  3. Arnold Toynbee, A Study of History, vol. 8 (London: Oxford, 1954). 117 ↑ 
  4. Shoghi Effendi, The World Order of Bahá’u’lláh: Selected Letters, 2d rev ed (Wilmette: Bahá’í Publishing Trust, 1974), 123–24. ↑ 
  5. Eu devo essa interessante sugestão ao Dr. Hossain Danesh. ↑ 
  6. Shoghi Effendi, God Passes By (1944; reprint, Wilmette: Bahá’í Publishing Trust, 1974), 56, and The Bahá’í World, vol. 9, 1940–1944 (1945; reprint, Wilmette: Bahá’í Publishing Trust, 1981), 588. ↑ 
  7. O uso insistente do termo Bábí nos ataques dos muçulmanos iranianos à Fé bahá’í no decorrer dos anos é um reflexo do espírito de animosidade incitado pelos seus primeiros oponentes clericais do século XIX. ↑ 
  8. Percy Bysshe Shelley, Prometheus Unbound, bk. 4, ll. 569–78. ↑ 
  9. Ralph Waldo Emerson, The Divinity School Address, Selections from Ralph Waldo Emerson, S.E. Wricher, ed. (Boston: Houghton Mifflin, 1960), 115–16. ↑ 
  10. Alfred, Lord Tennyson, Idylls of the King: The Passing of Arthur, ll. 408–10. ↑ 
  11. Muhammad-i-Zarandí (Nabil-i-A’zam), Os Rompedores da Alvorada. ↑ 
  12. O Báb, juntamente com um jovem seguidor, foi suspenso por cordas nas paredes de um pátio na citadela de Tabríz. Um regimento armeno cristão, cujo comandante havia expressado seu grande desconforto em realizar a tarefa a ele designada, foi ordenado a atirar nos prisioneiros. Quando a fumaça do disparo de 750 rifles dissipou, a multidão, que assistia aglomerada nas paredes e nos telhados, reagiu de maneira quase pandemônica. O companheiro do Báb prostrava-se ileso em frente à parede e o Báb havia desaparecido. A salva não causou nada mais do que ↑ 
  13. Ernest Renan, Les Apôtres, traduzido do francês por William G. Hutchison (London: Watts & Co., 1905), 134. Por sua causa, milhares de mártires afluíram para a morte. Um dia sem paralelos, quiçá em toda a história do mundo, foi o dia do grande massacre dos babís em Teerã. ‘Naquele dia, aconteceu nas ruas e bazares de Teerã’ disse um narrador, que teve notícias em primeira mão, ‘um espetáculo que a população jamais esquecerá… mulheres e crianças avançaram, cantando um verso, que dizia ‘Em verdade, viemos de Deus e a Ele retornaremos.’ O narrador referido é J.A. de Gobineau, 3d ed., Les Religions et les Philosophies dan l’Asie Centrale (Paris: Ernest Leroux, 1900), 304 et seq.  ↑ 
  14. The Dawn-breakers, 65. ↑ 
  15. E.G. Browne, introduction to Myron H. Phelps, Life and Teachings of Abbas Effendi, 2d rev ed (New York; London: G.P. Putname’s Sons: The Knickerbocker Press, 1912), xvi. ↑ 
  16. The Báb, Selections from the Writings of the Báb (Haifa: Bahá’í World Centre, 1976), 43. ↑ 
  17. The Dawn-breakers, 321–22. ↑ 
  18. John 1:1–10, Authorized (King James) Version. ↑ 
  19. Bahá’u’lláh, The Call of the Divine Beloved (Haifa: Bahá’í World Centre, 219), 88–89. At the time of this article’s original publication, an earlier translation of The Four Valleys was used. This article has been updated to reflect the new authorized translation of the work. ↑ 
  20. E.G. Browne, Introduction to A Traveler’s Narrative: Written to Illustrate the Episode of the Báb, by ‘Abdu’l-Bahá. Trans. E.G. Browne (New York: Bahá’í Publishing Committee, 1930), viii. ↑ 
  21. E.G. Browne, Bábíism, Religious Systems of the World, 3d ed (London: Swan Sonnenschein & Co. and New York: MacMillan & Co., 1892), 352–53. ↑ 
  22. A objetividade de Browne parece ter sido nublada, também, pela sua esperança de que os babís focariam suas energias na reforma política da Pérsia. Criticando o que ele via como um desvio de Bahá’u’lláh das energias dos bahá’ís da política doméstica para a Causa da unidade mundial, ele reclamou que …neste momento, o que a Persia necessita, são homens que amam seu país acima de tudo. Introdução em Inglês do Nuqtatu’l-Káf, citada em H.M. Balyuzi, Edward Granville Browne and the Bahá’í Faith (London: George Ronald, 1970), 88. ↑ 
  23. The Bahá’í World, vol. 9, 1940–44 (Wilmette: Bahá’í Publishing Trust, 1945), 584–85. ↑ 
  24. Selections from the Writings of the Báb, 135. ↑ 
  25. Ibid., 91. ↑ 
  26. Selections from the Writings of the Báb, 49. ↑ 
  27. Persian Bayán, unpublished manuscript. References to units and chapters 7.1; 5.7; 4.1; and 7.11. ↑ 
  28. Selections from the Writings of Bahá’u’lláh, 104. ↑ 
  29. Ibid., 59. ↑ 
  30. O desafio se intensificou para os principais seguidores do Báb em uma conferência realizada em uma pequena vila de Badasht em 1848. Curiosamente, a figura que assumiu a liderança em trazer à tona a percepção da magnitude das mudanças espirituais e intelectuais colocadas em curso pelo Báb foi uma mulher, a talentosa poetisa Táhiríh, que também, posteriormente, foi martirizada em função de suas crenças. ↑ 
  31. “O Livro Sacratíssimo, a escritura de Bahá’u’lláh que consagra uma nova civilização, escrita em árabe em 1873. ↑ 
  32. Em O Kitáb-i-Aqdas, Bahá’u’lláh formalmente abole a guerra santa como característica de uma vida espiritual. Ver William S. Hatcher and J. Douglas Martin, The Bahá’í Faith: The Emerging Global Religion (San Francisco: Harper & Row, Publishers, 1985), 13–14. ↑ 
  33. Seleção dos Escritos do Báb., 86. ↑ 
  34. Idem, 56. ↑ 
  35. Bahá’u’lláh, The Kitáb-i-Aqdas, para. 88. ↑ 
  36. Bahá’u’lláh, Epístolas de Bahá’u’lláh reveladas após o Kitáb-i-Aqdas. ↑ 
  37. Os Rompedores da Alvorada ↑